segunda-feira, 12 de outubro de 2015

~Durma bem...



Eu ainda não sei bem como me sinto. Ultimamente tem sido um vazio imenso que toma conta de mim e dos meus dias. Nada me empolga, nada me alegra, nada desperta meu interesse como antes. Tento, a todo custo, rir e sorrir com as coisas, com as pessoas, com os fatos. Mas o máximo que consigo são algumas horas de uma alegria desbotada e falsa, feita especialmente para dar conforto aos outros enquanto eu mesmo não sou confortado. E assim se vão os minutos, as horas, os dias, as semanas, os meses. E assim se vai minha essência.
E, no meio disso tudo, ainda olho ao redor e encontro solidão. Encontro descaso, abandono, escárnios cochichados ao pé do ouvido (ditos como se eu não pudessem ouvir) e silêncio. E silêncio. Um mar imenso e devastador formado do mais duro e sólido silêncio.
Reviro na cama. Olho os números marcando o horário na tela do celular. Já nem me importo em quantas horas são. Não quero levantar. Não quero começar um novo dia. Não quero. Mas já estou cansado de encarar o teto branco do meu quarto. Cansado de ficar deitado encolhido no canto da minha cama. Cansado de chorar escondido. E, acima de tudo, cansado.
Lembro que já se vão 3 ou 4 meses em que eu tenho chorado praticamente todos os dias. Passei anos sem derramar uma única lágrima, seja ela de tristeza, pesar, arrependimento ou alegria. E agora passo dias a fio entregando um estoque quase inacabável de lágrimas quentes. E é sempre a mesma história: acordar, vazio, vazio, vazio, um aperto no peito, um nó no estômago, algo se mexe lá dentro como se tivesse um bicho estranho subindo até minha garganta. Algo entala na minha garganta. Um nó. E vazio, vazio, vazio. E então, uma a uma, elas saem. Lágrimas transparentes, pesadas, quentes e doloridas, como se eu estivesse chorando cacos de vidro. Como se estivesse chorando a própria dor transfigurada em gotas salgadas. Como se me chorasse.
Até algum tempo atrás eu tinha uma ilusão (muito bonita e muito sólida) de um porto seguro, de um chão firme, de um lugar onde eu me sentia seguro, querido, importante. Até que fatos distintos foram retirando toda a firmeza dessa estrutura. E, apesar de descobrir o que as pessoas falam quando eu não estou por perto ter sido uma experiência interessante, a dor lasciva e aguda que sempre brota em meu peito quando me recordo das palavras duras, secas e insensíveis. É como diz aquele ditado: “A traição só dói porque ela não vem de um inimigo” ou algo assim. E é a mais pura verdade.
Mas ainda assim me pego pensando se eu reagiria diferente se passasse por essa experiência em uma época mais estável da minha vida. Onde meu psicológico não estivesse em frangalhos e minhas defesas não estivessem tão enfraquecidas. Talvez eu confrontasse. Talvez eu fosse atrás de respostas ou só ignoraria (como fiz com outros fatos). Mas não passei por isso em outra época. Passei por isso agora. Onde eu me sinto mais vazio, mais sozinho, mais largado. E eu já nem sei como meu coração ainda bate. Cada vez que acordo eu sinto-o doer. Como se uma agulha grossa e pontuda espetasse o meio do coração, furando o músculo a todo instante, atravessando a carne sem costurar nada.
E todas as noites tenho que respirar fundo tantas vezes, beber água tantas vezes, limpar meu rosto tantas vezes que cada músculo retesado do meu corpo dói. E é nessas horas que fico imaginando como seria não sentir mais essa dor, esse vazio, esse silêncio. Como seria tão mais fácil simplesmente não acordar mais. Não precisar mais abrir os olhos, mexer nos cabelos, caminhar, viver... A janela me parece uma alternativa. Um voo alucinante de 10 andares. Os remédios me parecem uma alternativa. Uma viagem sonolenta de 20 comprimidos. A minha velha conhecida lâmina me parece uma alternativa. Uma antiga amizade de 6 cortes. Mas eu simplesmente queria deitar, fechar os olhos e não sentir mais essa dor que cresce e machuca todos os dias e todas as noites, como se estivesse tão grande que a qualquer momento ela iria irromper pelo meu peito, explodindo meu tórax, expulsando-me de mim mesmo. E eu só queria não ter que acordar mais.
Mas passam-se as horas, passam-se os dias e eu volto a despertar. Eu só não sei ainda até quando.

terça-feira, 2 de junho de 2015

~ A Casa

A casa já está vazia.
As paredes mudas, frias e dormentes.
O ar pesado, grosso... Difícil de respirar, de tocar. Lágrimas salgadas, duras, pesadas e doloridas alagam o chão. As janelas, antes azuis e abertas, agora jazem fechadas, desbotadas e descascadas. A única luz que adentra o lugar é uma linha atrevida de sol que se esgueira entre as frestas. No centro da habitação desabitada, um corpo trêmulo se encolhe abraçando os joelhos. Cabelos desgrenhados, os olhos molhados, pesados, a pele sem brilho, a alma seca. Um soluço entrecorta o silêncio aqui e ali, levando suspiros de dor. Este corpo é meu, mas já não sei o que fazer com ele. Não sei se o quero mais, se o suporto mais. Parece oco, mas pesado demais. O baque foi feio. Certeiro. Surdo. Oco. Certeiro. Duas flechas que jamais esperei. Duas dores que sempre pedi pra não sentir. E agora habito no chão, com a sensação de vazio, de dó. Corto as cordas com a enorme lasca que caiu do coração trincado. Esses laços, essas linhas já não me são tão úteis. Nem tão bonitos. Nem tão eternos. Vejo os fios vermelhos caírem, leves, doloridos, pesados, macios, chorosos. Mais um trincado. E mais um curativo. Um remendo. Uma costura. Ignoro as lágrimas que escapam com seus vestidos de prata. Ignoro a dor que valsa e rodopia em meu peito. Deito no chão ignorando o molhado. Ignoro as batidas na porta.
Suspiro novamente.
Ignoro.

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