terça-feira, 2 de junho de 2015

~ A Casa

A casa já está vazia.
As paredes mudas, frias e dormentes.
O ar pesado, grosso... Difícil de respirar, de tocar. Lágrimas salgadas, duras, pesadas e doloridas alagam o chão. As janelas, antes azuis e abertas, agora jazem fechadas, desbotadas e descascadas. A única luz que adentra o lugar é uma linha atrevida de sol que se esgueira entre as frestas. No centro da habitação desabitada, um corpo trêmulo se encolhe abraçando os joelhos. Cabelos desgrenhados, os olhos molhados, pesados, a pele sem brilho, a alma seca. Um soluço entrecorta o silêncio aqui e ali, levando suspiros de dor. Este corpo é meu, mas já não sei o que fazer com ele. Não sei se o quero mais, se o suporto mais. Parece oco, mas pesado demais. O baque foi feio. Certeiro. Surdo. Oco. Certeiro. Duas flechas que jamais esperei. Duas dores que sempre pedi pra não sentir. E agora habito no chão, com a sensação de vazio, de dó. Corto as cordas com a enorme lasca que caiu do coração trincado. Esses laços, essas linhas já não me são tão úteis. Nem tão bonitos. Nem tão eternos. Vejo os fios vermelhos caírem, leves, doloridos, pesados, macios, chorosos. Mais um trincado. E mais um curativo. Um remendo. Uma costura. Ignoro as lágrimas que escapam com seus vestidos de prata. Ignoro a dor que valsa e rodopia em meu peito. Deito no chão ignorando o molhado. Ignoro as batidas na porta.
Suspiro novamente.
Ignoro.

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