A casa já está vazia.
As paredes mudas, frias e dormentes.
As paredes mudas, frias e dormentes.
O ar pesado, grosso... Difícil de
respirar, de tocar. Lágrimas salgadas, duras, pesadas e doloridas
alagam o chão. As janelas, antes azuis e abertas, agora
jazem fechadas, desbotadas e descascadas. A única luz que adentra o lugar é uma
linha atrevida de sol que se esgueira entre as frestas. No centro da habitação desabitada, um
corpo trêmulo se encolhe abraçando os joelhos. Cabelos desgrenhados, os olhos molhados,
pesados, a pele sem brilho, a alma seca. Um soluço entrecorta o silêncio aqui e
ali, levando suspiros de dor. Este corpo é meu, mas já não sei o que
fazer com ele. Não sei se o quero mais, se o suporto
mais. Parece oco, mas pesado demais. O baque foi feio. Certeiro. Surdo. Oco. Certeiro. Duas flechas que jamais esperei. Duas dores que sempre pedi pra não
sentir. E agora habito no chão, com a sensação
de vazio, de dó. Corto as cordas com a enorme lasca que
caiu do coração trincado. Esses laços, essas linhas já não me
são tão úteis. Nem tão bonitos. Nem tão eternos. Vejo os fios vermelhos caírem, leves,
doloridos, pesados, macios, chorosos. Mais um trincado. E mais um curativo.
Um remendo. Uma costura. Ignoro as lágrimas que escapam com
seus vestidos de prata. Ignoro a dor que valsa e rodopia em
meu peito. Deito no chão ignorando o molhado. Ignoro as batidas na porta.
Suspiro novamente.
Suspiro novamente.
Ignoro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário