Um emaranhado de fios coloridos
pintava minha mesa. Aquele novelo em furta-cor deixado ali por um qualquer
quebrava todo o tom sério do quarto arrumado. Minhas prateleiras apinhadas de
livros tantos. As paredes de um verde calmo e singelo que rebatiam a luz do dia
que adentrava pela minha janela. Alguns pôsteres e desenhos tingiam as paredes,
enquanto uma caixinha contendo duas pequenas bolas de meditação, que retiniam
ao serem agitadas. Tudo metodicamente arrumado.
Sentado no canto da cama, juntei
minhas pernas em um abraço solitário. Ajeitei meus óculos enquanto despia a
boina marrom. E chorei. Deixei que minhas lágrimas gritassem pelo silêncio
vazio que habitava em mim. Era Natal e nem mesmo as cores festivas e os brilhos
singelos da época despertavam em mim qualquer espírito de boa nova.
O ceifeiro que carregou em suas
asas negras a imensidão colorida do fim de ano veio em forma de mensagem. Um
bipe, um toque, uma leitura, meia dúzia de palavras mortas e o fim. Recebi o
baque de peito aberto, perdi o ar, vi o chão escorregar por entre minhas pernas
e a raiva e frustração explodirem em meu peito e então se fecharem no meu
palácio de silêncio.
E com o tempo, a dor cedeu lugar
a novas companheiras. A decepção e raiva chegaram juntas, mesclando suas cores
mórbidas em mim e tingindo meu silêncio inquieto. E tudo que eu tinha eram
silêncio e solidão. Minha mãe veio me chamar para o dia de confraternização.
Levantei-me, vesti minha melhor face, armei-me de minha mais segura
alegria-falsa e segui o solfejo natalino. E meus olhos eram a única forma de
chegar à dor escondida em mim.
Após a semana de luta solitária,
recebo enfim pares de asas cintilantes e de uma quentura reconfortante. Duas
asas enormes, com penas compridas, fortes e que retiniam em uma risada
histérica e divertida. Duas asas quietas, já há muito conhecidas e usadas por
mim, que soltavam, vez ou outra, suspiros divertidos e silêncios companheiros.
E recebo enfim um par de asas negras, novas e lisas, que cintilavam o sol da
manhã. Presentes que recebi e que me fizeram erguer novamente meu voo e juntar
os cacos de força que havia em mim.
Meus
olhos agora estão erguidos, firmes; por trás de minhas lentes claras observo
novamente as mudanças ao meu redor. Enfrento meus medos e batalho contra meus
próprios demônios ao lado de minha alma virgem. Entoo meus mantras e solfejo o
bafo morno e colorido do outono enquanto caminho e traço minhas linhas
astrológicas.
E hoje
sou novo. Sou renovado. Experimento, minto, brinco, rio. Invento novos
Guilhermes por aí, me refaço, remodelo. Mas acima de tudo me torno Guilherme.
Um virgem em gêmeos, um amigo, filho e irmão. Mas Guilherme!
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