Cinza. Era assim que estava o céu no
dia em que ele foi embora. Sam tinha 6 anos quando o pai falecera. Era um dia
cinzento, com certeza. Acompanhando o rápido trajeto, de um silêncio fúnebre e
uma beleza mórbida, o garoto, agarrado à saia da mãe, chegava ao cemitério. Entre
soluços e lágrimas, a pequena criança observava, atônita a todo festejo
incolor. Com seus olhos redondos, viu seu pai ser enterrado e não sabia o que
sentir... ou o que fazer. Com um aceno rápido da varinha, Esmeralda fez surgir
uma coroa de flores roxas e depositou sobre o mármore negro e frio que selava o
fim da vida de seu marido. E silêncio... e o cinza.
Cinco anos se passaram, e o céu não
era mais cinza. Um vasto manto azul cobria uma casa de madeira e seu jardim
florido. A relva verde contrastava com o magnífico céu da manhã. Um garoto
observava as nuvens. Seus olhos acinzentados percorriam a imensidão azul,
enquanto sentia a brisa balançar seus cabelos.
_Sammy, venha
aqui. Chegou sua carta!, gritava sua mãe de dentro da casa.
O garoto foi a passos rápidos para
dentro, entusiasmado. Esperara por aquele envelope, como um pulmão espera pelo
ar. Ao ver o envelope amarelado, com letras desenhadas em verde-esmeralda, o
coração do garoto pulou em êxtase. Abriu. E mais amarelo. O papel amarelado era
cortado por letras verdes, contendo a tão esperada mensagem.
Escola de
Magia e Bruxaria de Hogwarts
PREZADO
SR. SANDERSON.
Temos
o prazer de informar que V.Sª tem uma vaga na escola de magia e bruxaria de
Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários.
O ano
letivo começa no dia primeiro de setembro, estamos aguardando sua coruja até
31
de julho, no mais tardar. Atenciosamente
Ezra Divina
Diretora
Olhou confidente para a mãe que
estava com pequenas lágrimas de orgulho decorando os olhos. Se abraçaram em
festa, enquanto a mãe soltava pequenos lampejos azuis pela ponta da varinha. E
o céu já não era mais azul. O crepúsculo o afugentara, tomando para si toda a
imensidão do céu londrino. E na casa imensa podia-se ver apenas uma mulher
alta, de longos cabelos soltos, andando em direção à lareira, seguida por um
pequeno corpinho, de cabelos rebeldes e eriçados. A mulher soltara sua mão e se
inclinou, entrando na lareira.
_Beco
Diagonal!, e a mulher desapareceu em chamas muito verdes, que crepitaram e
sumiram.
A criança repetiu os passos da mãe,
e desapareceu em verde-claro, assim como sua antecessora. Em um bater de
coração, estavam mãe e filho, de mãos dadas, entrando num pequeno hotel de um
simpática e silenciosa rua torta. Não havia tempo a perder. Na manhã do outro
dia iriam apressados às compras.
E o céu se encheu de azul e amarelo
e branco novamente. Fazia uma linda manhã, nada poderia ser mais especial que
aquele céu limpo. Sammy já estava pronto, vestindo roupas escuras de frio, com
luvas sem dedos. Esperava paciente a mãe calçar os sapatos. E saíram. A
ruazinha torta, silenciosa sob o negro céu, no azul claro se enchia de gente,
de cores, de sons e cheiros, e cores, e ruídos, e conversas e passos, e cores!
Passaram o dia comprando a lista de
materiais necessários ao primeiro semestre, incluindo uma grande coruja negar
de olhos âmbar e um livro de feitiços para iniciantes, que não estava na lista.
Mas ainda faltava uma coisa. A mais importante delas: a varinha. Entraram numa
pequena e empoeirada loja “Olivaras, varinhas de 1300 A.C.” Sammy experimentou
diversas varinhas, até que uma finalmente escolhera o garoto. Seu corpo se
encheu de uma luz quentinha, seus cabelos tremeram e a varinha soltou faíscas
roxas e vermelhas em todas as direções. Era aquela: Salgueiro, 26 cm e
farfalhante, com núcleo de pêlo de testrálio, ótima para feitiços. E assim, em
meio ao céu alaranjado do fim da tarde e a uma taça enorme de sorvete,
terminava o primeiro dia de uma longa caminhada. E o garoto mal podia esperar
para que o ano letivo começasse. E o céu ficou azul-marinho, salpicado de
pequenas gotas brancas.
~ X ~