Hoje pensei em me matar... Mórbido, né?!
Mas eu realmente já não sei até quando vou conseguir resistir, até quando vou
suportar os pesos que me são destinados. Diário, eu tive um dia tão bom,
tranquilo, calmo. Não sei de onde aquela onda trôpega de pensamentos negativos
veio. Não sei como consegui me pegar pensando somente em coisas ruins. Senti
apenas um vazio dentro de mim, que crescia e se agitava, como se eu fosse oco,
como se nada que eu fosse ou que tivesse valesse a pena. Eu não sei, me pareceu
como se um buraco negro abrisse suas portas dentro de mim e fosse crescendo
como uma fera descontrolada devorando tudo que encontrava pelo caminho.
Eu sei, parece que eu sempre exagero
as coisas, sempre as colocando em patamares maiores do que elas realmente
merecem estar. Mas eu não conseguia encontrar um único ponto de luz em que eu
pudesse me agarrar. As amizades já não pareciam as mesmas, a família parecia
distante, os amores cada vez mais impossíveis e.... aquela pessoa... aquela
pessoa que sempre me atormenta os sonhos. Por mais que eu sorria quando penso
nela, é a mesma pessoa que faz o anzol de tormento puxar suas linhas negras em
volta da minha alma. E vou cada vez mais para baixo, para o mais escuro fundo
que habita em mim.
Parece meio precipitado... eu me
matar, ser o meu próprio ceifeiro, acabar com toda a dor que persiste em me
apunhalar. Não sei, só me pareceu uma boa ideia na hora. A ideia de vestir a
mortalha negra da morte, de me entregar às suas asas, de partir para onde não
haveria mais mentiras ou dores, ou amores não correspondidos nem medo, nem
insegurança. Um lugar de paz, claro, sereno. Uma navalha, duas teias horizontais
pingando gotículas carmesins. Ou até mesmo um salto do alto de um prédio,
ouvindo o vento entoar sua infindável música, como um mantra da morte, me
recolhendo em seus braços, para depois largar-me estatelado no colchão de
concreto que aguarda no fim da descida. Apenas alguns minutos, alguns segundos,
algumas lágrimas. E fim. E tudo estaria bem.
Mas bem para quem, você me pergunta.
Ah querido diário, foi exatamente essa a pergunta que me puxou das águas frias
e depressivas que me aprisionavam. Quem estaria bem? Quem me garante que do
outro lado do lago congelado da vida as coisas não seriam piores, mais difíceis,
mais incertas? Quem me garante que a dor seria findada? E os que eu deixaria
para trás? Quanto sofreriam? Eu nunca quis fazer ninguém sofrer, não queria ser
o causador de nenhuma lágrima sequer. Por que deixaria como último presente uma
quantia incontável de lágrimas nodosas embrulhada numa caixa fúnebre? Não, eu
não sou assim. E consegui me reerguer.
Se agora escrevo em ti, meu querido
diário, é porque consegui resgatar em mim as últimas forças que eu havia
guardado em um armazém escondido que nem eu mesmo lembrava a senha, qual chave
serviria. A imagem que tenho é de um eu, encostado num amontoado de nada,
cercado do mais negro manto de ébano. E de repente, um silvo... um sino. E as teias
de memórias, como fios de aranha sendo tecidas em mim, me relembrando quem eu
era. Eu sou imbatível, eu tenho as asas mais claras e as forças mais
inesgotáveis do mundo. Eu sou o ser mais importante do universo, do meu
universo e isso me basta.
Sai de minha caverna como se alçado
por um anjo pacífico e sem rosto, tendo como única certeza que eu conseguiria,
mesmo se me dissessem que eu não podia mais, que não me era permitido amar, que
eu não poderia sorrir. Eu iria fazer minhas próprias regras, iria mais longe.
Sim, meu valioso amigo, eu vou continuar de pé. E espero que possas me
acompanhar em mais dias e mais lágrimas e mais sorrisos.
Com todo amor que possa haver no
coração de um ser,
~Arthur P. Sanderson
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