quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

~ Ajuda



Sozinho nesse quarto meus olhos marejados e turvos percorrem o branco de cada parede. Nada mais parece fazer sentido, nada parece valer a pena. Um sentimento imenso de vazio e solidão invadem todo o meu ser, molestam cada célula do meu corpo, cada ponto da minha alma e me embrulham o estômago. O nó que se formou no minha garganta já começa a incomodar trazendo a dor que antes era suportável para mais perto da minha boca e já não consigo mais me conter. Meu choro é banhado em lágrimas tantas e prantos infinitos que salgam os cantos da minha boca aberta e chorosa. Pareço um cão ferido, ganindo quase em silêncio a cada pontada de dor que percorre todo o meu corpo como uma corrente elétrica que começa no meio do coração e corre pelas minhas entranhas e já toma conta de mim. Não consigo parar. Simplesmente não consigo. Abraço minhas pernas movimentando-me para frente e para trás, como se fosse embalado por uma cadeira de balanço meio torta. O queixo rente aos joelhos, os olhos muito abertos e as lágrimas caindo em cascatas sem cor. Meus cabelos já estão mais que desgrenhados pela briga incessante com meus dedos. Minhas costas arqueadas, dobradas e doloridas. E meu choro moribundo. E eu simplesmente não sei de onde veio essa torrente imensa de tristeza e de vazio. Apenas encontrei-a dia desses em mim. E agora ela já possuiu meu corpo, tomou conta da minha mente já cansada, da minha alma fatigada e do meu tempo. Preciso parar de chorar, preciso parar de chorar, preciso. Não consigo entender o porquê de me sentir tão vazio, tão incompleto, tão abandonado.  Abandonado. Vazio. Incompleto. E a tempestade de lágrimas não para. Preciso parar de chorar, preciso parar de chorar, preciso parar, eu preciso... Coloco as mãos na cabeça, tapando os ouvidos numa tentativa inútil de calar as vozes que ecoam na minha cabeça dizendo que eu sou diferente, que estou sozinho, que fui abandonado, que jamais encontrarei um lugar onde me sentirei em casa, protegido, acolhido. E mais pensamentos ruins e sentimentos desastrosos chegam para me fazer companhia no silêncio escuro do quarto. Preciso parar de chorar, preciso parar de chorar. Não consigo. Por que eu não consigo? Me abraço, me aperto, me rodeio. E nada parece resolver. Nada parece realmente adiantar. O sentimento de vazio e de solidão não quer ir embora. Não quero me entregar, mais uma vez, para esse vazio dentro de mim. Passei muito tempo na escuridão e eu não pretendo voltar pra lá. A luz aqui fora é tão brilhante, tão bonita. Não quero. Eu não quero voltar a viver na escuridão. Não quero ter as trevas e o nada como companhia. Não quero voltar pra lá. A marca em meu pulso me faz lembrar os tempos difíceis de solidão, de vazio, do nada. A linha torta e diagonal que percorre uma parte do meu braço me lembra de como era ruim ficar totalmente só, totalmente entregue, totalmente incompleto. Na época a linha me pareceu ser uma saída. Apenas um risco vermelho e tudo iria embora. Mas a linha veio acompanhada de memórias, de lembranças, de família, de fé e de força. Mas agora, sozinho e distante de tudo e de todos, num completo vazio existencial, a antiga linha já me parece ser uma companheira melhor. Ou o bom e velho colar de corda. A altura. O fim. Mas não me parece certo, nunca pareceu. Uma saída simples demais. Preciso continuar, preciso provar a mim mesmo que eu consigo. Mas... e se não? E se eu for somente a força para o outro e nunca para mim? Somente o conselho, a ajuda, o amigo para o outro e nunca para mim? Preciso parar de chorar, preciso parar de chorar, preciso. Acho que preciso de ajuda. Eu preciso de ajuda. Preciso de um abraço sincero e inesperado, que fique grudado em mim por um tempo, sem precisar se soltar, sem precisar ir embora. Somente um abraço. Mudo que for. Ou que venha acompanhado de um “vai ficar tudo bem. Eu estou aqui”. E que continue abraçado a mim num abraço sem fim, só esperando que alguma coisa passe, que alguma coisa mude. Preciso parar de chorar, preciso parar de chorar, preciso.

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