quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

~ Aaron

                O lugar era branco. Disso ele tinha certeza. Mas não era, de longe, familiar. Sabia que era branco e que fazia um frio agradável. E que ventava. Sim, havia um vento morno e carinhoso que percorria alegremente o lugar que não era um lugar. Sinos. Havia sinos também. Ou guizos, era difícil diferenciar.
                Aaron estava esquecido naquele imensidão branca. Sentado pacientemente num banco comprido de ferro ornamentado em voltas e curvas e formas, o menino olhava pra o espaço albino e sem fim. Seus olhos marrons piscavam preguiçosamente. Não sabia como tinha chegado ali nem tampouco onde era ali. Só sabia que tinha de esperar.
                Os cabelos finos, despenteados, balançavam com o vento colorido que passava ali hora ou outra. Os dedos tamborilavam a madeira escovada do banco. As pernas balançando sem conseguir tocar o chão. E o silêncio agradável do vazio ecoando em tudo.
                Uma pena caia lentamente do alto. A pluma branca cintilava num balé em redemoinho, descendo lentamente até tocar o chão. E outra caia por fim. E outra. E mais uma. E a chuva de plumas começava a descer suavemente sobre o garoto. Piscou um par de vezes. Sentiu uma mão muito macia tocar suas costas. Virou. Um brilho.
                Naquela tarde, um corpinho congelado jazia perdido em um beco de Londres.

Um comentário:

  1. Eu até gostaria que a morte fosse bonita assim, não me importaria. Misterioso, singelo e fenomenal! Parabéns!

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